Pappel Amarelo
domingo, 14 de outubro de 2012
Foto: Sxc.hu
ESCAMBO
Toda semana a gente
vasculha as gavetas e armários, atrás de coisa feita, esquecida e amarelada
pelo tempo para des-envolver do invólucro da obviedade.
E trocar o que encontra por
palavra.
Também catamos coisa nova,
caída por descuido durante o rasante d’algum pássaro, e da substância bruta, decantar em
palavra
Doutra feita, procuramos o
despercebido, aquilo que ficou parado no lugar quieto das coisas, detrás da
porta, debaixo do travesseiro, no chão do aposento não visitado, na imensidão do pequeno.
Para, da sombra, fazer
palavra.
Esquadrinhando a fala do
outro, o gesto dos outros, quem sabe lá também, se avizinha o fiapo de um sonho
para verter em palavra.
Descemos ao fundilho dos
bolsos atrás da moeda d’ouro que vai pagar o interdito, o maldito, o sintoma ou
simplesmente, o preço do que ainda não há.
Toda semana a sobra azeda
das indigestões matinais tem a chance de diluir-se em letras, borboletas que
voam pela voz.
Ou em riso, esse fósforo
aceso, após a seqüência de uns tais cinzas.
CHRISTIANE, outubro 2012
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