Pappel Amarelo domingo, 11 de novembro de 2012




Foz do Iguaçu


Nada dura, e no entanto nada passa, tampouco. E nada passa justamente porque nada dura.
Philip Roth em A Marca Humana, trad. de Paulo Henriques Britto

Pappel Amarelo quinta-feira, 25 de outubro de 2012


O muro

Parou diante do muro.
Queria ver o que tinha do outro lado
Concentrou-se, inspirou e com os braços estendidos...
Empurrou o muro.
Cantarolou o tema de algum super-herói.
Parou, olhou para o chão
Tentando achar provas de que o muro se mexeu.
Nada.
Cerrou os olhos e encarou o muro
O esforço fez com que cerrasse os dentes (estava feita a careta),
Impedindo-o de repetir o tema do super ser.
Esperou que o muro ficasse transparente
E que o cenário de lá começasse a aparecer.
Nada.
Pular seria a óbvia solução.
Como não pensara nisso antes?
Distanciou-se, preparou-se... e desistiu.
Por que não estava com a sua capa? Pensou.
Seria o máximo vê-la tremulando
Em velocidade máxima.
Voltou à posição heróica
E lançou-se, como um raio
Imaginou-se como tal
E sorriu orgulhoso.
Percebendo o muro crescer,
Diminui a velocidade
E, bem devagar, aproximou-se ,
Encostando a ponta do nariz
No pássaro desenhado no muro.
Percebeu os desenhos.
Desistiu de vencer o muro.
Afastou-se e se imaginou diante de um grande livro...
Começou a inventar uma história
Ligando mentalmente as figuras nele desenhadas.
Quis mais...
Quis participar da história
Chegou-se ao muro e sentou-se.
Fazia, agora, parte das figuras
Gostaria de poder se ver no muro
Como desenho...
Foi então que percebeu
Que conseguiu o que tanto queria:
Ver o que tinha do outro lado do muro...Do lado de dentro.
Sergio Lima

11/10/12
Outono.

Pappel Amarelo terça-feira, 23 de outubro de 2012


imagem do Google
O CIRCO


O circo foi embora quando a chuva chegou
Ainda restam os vestígios da algazarra espalhados pelo chão da terra seca.
Ficou a presença invisível de palhaços e açúcares.
Agora  intermitentes na lembrança
E não satisfeitos, continuam a saltitar indiferentes,
banhados  na  claridade rarefeita da memória
Vitrificados pelo desejo, que amplia, reduz e recria novos bonecos enfeitiçados.

O circo foi embora quando a chuva chegou e varreu o rastro dos saltimbancos
Varreu para detrás dos olhos da criança
Lá para onde o picadeiro é refeito todos os dias
E os dias, como títeres, saltam de trapézios impossíveis.
Christiane, outubro 2012



Pappel Amarelo domingo, 14 de outubro de 2012

 Foto: Sxc.hu

ESCAMBO

Toda semana a gente vasculha as gavetas e armários, atrás de coisa feita, esquecida e amarelada pelo tempo para des-envolver do invólucro da obviedade.
E trocar o que encontra por palavra.
Também catamos coisa nova, caída por descuido durante o rasante d’algum pássaro, e da substância bruta, decantar em palavra
Doutra feita, procuramos o despercebido, aquilo que ficou parado no lugar quieto das coisas, detrás da porta, debaixo do travesseiro, no chão do aposento não visitado, na imensidão do pequeno.
Para, da sombra, fazer palavra.
Esquadrinhando a fala do outro, o gesto dos outros, quem sabe lá também, se avizinha o fiapo de um sonho para verter em palavra.
Descemos ao fundilho dos bolsos atrás da moeda d’ouro que vai pagar o interdito, o maldito, o sintoma ou simplesmente, o preço do que ainda não há.
Toda semana a sobra azeda das indigestões matinais tem a chance de diluir-se em letras, borboletas que voam pela voz.
Ou em riso, esse fósforo aceso, após a seqüência de uns tais cinzas.

                   CHRISTIANE, outubro 2012

Pappel Amarelo domingo, 7 de outubro de 2012

Imagem Google
Ambiente de Trabalho
      Já reparou como um ambiente de trabalho pode ser tão frio, luzes claras, pessoas sérias olhando para o computador provavelmente desligadas do mundo lá fora, outras conversando assuntos de relatórios, processos e etc. E que em minha opinião não são nada interessantes.
A maioria deles são escritórios, alguns são mais alegres, já outros bem quietos. Cheios de cadeiras, telefones tocando naquele barulhinho irritante, gavetas se abrindo e fechando, pastas, o cafezinho nos famosos e pequenos copinhos de plástico e os cruéis computadores, é impressionante com uma máquina pode fazer um ser humano sair totalmente do mundo real.
Para mim o ambiente de trabalho é como se fosse um reino, o chefe é como o rei ou a rainha, os outros são como habitantes daquela terra estranha onde todos vivem trabalhando 12 horas seguidas em troca de uma recompensa. Como eu disse antes, alguns mais alegres já outros nesse caso mais parados.
Acho que a maioria desses escritórios tem o ar de pessoas que não vêem o ambiente de trabalho como um lugar agradável para ficar metade do dia. Mas é incrível como a maioria das crianças vê o ambiente de trabalho totalmente diferente do ponto de vista da maioria dos adultos. 
Isis Fenner - 11 anos
5/10/2012




Pappel Amarelo quarta-feira, 3 de outubro de 2012


lamento


Pobre ! Miserável mesmo, ao extremo. 
Não toco rabeca e não sou escritor.
Pelas águas do meu ser, não remo.
Não me perdoarás, nem me salvarás,
Nossa Senhora, nem meu Senhor.


Fernando Fenner

Pappel Amarelo domingo, 2 de setembro de 2012




A  Onda
1,50x45 cm
Acrílico sobre Tela
Ilse Fenner


Na Feira da Segunda

“Um bom dia e coragem, que hoje é segunda-feira!” Assim se despede o jornalista no noticiário da manhã, enquanto, longe de estar resignado, Saulo procura a calça em algum lugar do armário abarrotado. Pior que a segunda é a primeira, isto é, o malfadado domingo. Ele bem sabe que a véspera é que enseja o desânimo e alvoroça seus fantasmas. É na expectativa da segunda-feira que lhe deitam os pensamentos na cama de pregos, não sem antes beberem do cálice da insanidade. Está amassada e velha, a calça. Raios!  Como não espiar da estreita janela do domingo e alcovitar noite afora as mazelas da segunda?? Chega a ser uma tentação, segreda. Suspira entediado, de hoje nada sabe, só está vivo e esbraveja achando apenas um pé de cada meia diferente, que dificuldade é essa meu deus? Deveria estampar nos out doors da rua: Deixai o amanhã no amanhã, raios!  É de se imaginar que o presente está longe de exercer sua primazia, é mais um presente de grego... Sobre o passado, pondera, consigo uma posição mais confortável, de falar sobre o ocorrido, ah sim.. nele voltamos à posição de senhores do tempo, detentores do esperado, rechaçadores oficiais da surpresa!! Achei, enfim, não combinam, mas pelo menos não estão furadas... O futuro? Não, não precisa se preocupar, sabe que hoje está protegido dele, quando a elucubração pode deitar-se no estofado das suposições. Mas o presente é o que de fato incomoda, dele não temos leitura possível, só depois, só no depois. Eis o impasse, o gargalo e a insuportabilidade, assevera por fim mais conformado à roupa. Quando olhar no relógio, não vai tomar café, está atrasado e ainda vai perder o ônibus, mas disso ele ainda não sabe...



                                                                                                                                                                  Christiane
                                                                                                          fins de agosto de 2012

Pappel Amarelo sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Marc Chagall
(Sobre a Cidade)
SONHO


Nem sabemos dizer

  Aquilo que nos baniu de noite
   E nos devolveu fartos pela manhã

Rendidos em berço esplêndido
Nas moradas infantis
Que erguem paredes de sal
Todas as noites

Refletido n’água
Vulto ou susto
Donde ecoa aquela cantilena 
Bizarra e familiar

Acordo com olhos de vidro
A memória espicaçada
  Pulo no trampolim do dia
  Direto pra boca da noite
  A me cuspir de manhã. 

 Expediente da  terceira manhã de agosto, 2012
  Christiane


Pappel Amarelo terça-feira, 31 de julho de 2012


Robert Rauschenberg
lleana (Ruminations) 1999
Litogravura
QUEIMADURA

    Ao falar sobre o ocorrido, as tias cerram os olhos de pavor e arrepio, ai, só de imaginar a perninha do menino lascada pela água fervente ninguém aguenta.
A irmã escuta pela enésima vez a mesma história, as interjeições, a indignação e         depois de absorver todos os meudeusdocéucoitadinhoquepecado, se aninha queixosa no colo da avó.
Na varanda da casa, o relógio rumina indiferente ao infortúnio do menino, há um cachorro que late por aí e outro, ao pé da mesa, se refestela com os restos do almoço; uma gargalhada avulsa vindo do sobrado vizinho enquanto alguém ressona no sofá da sala.
Daqui a pouco será esquecido o fato, consumado o choro. A indignação abafada pelos dias que escorrem do calendário e avançam pelo chão da casa.
E as tias vão falar do acidente do menino como mais um assunto que disputa o interesse das conversas domingueiras.
Texto de Christiane Fenner

Pappel Amarelo sexta-feira, 27 de julho de 2012



Vitrais da Catedral Notre Dame - Ottawa - Canadá
foto de Ilse Fenner
NÃO

Os pés bóiam
No terreno árido do meu humor
Esmigalham o barro ressequido  
Pensamento pesado
Tijolo e cimento

Dia aziago
Por entre os vãos do pensamento
Desliza a sua carne esponjosa 
Alargando o chão
Envergando o não

Nem tento
Nem fome
Intento algum me move
Sob o império do não

Sorte tudo ser frugal
E o sol, lá fora, não se importar
Continuar indiferente a refletir desenhos nos vitrais da catedral

Christiane
 expediente de 2012

Pappel Amarelo terça-feira, 3 de julho de 2012

A menina tinha uma máscara lilás
 com sentimento de paz.
Frases com Rima de
Lara Fenner de Oliveira 

Pappel Amarelo segunda-feira, 25 de junho de 2012

Neblina em Curitiba, no dia 23/6/2012 (só que é neblina branca e de manhã)
(ver em Na Mira do Leitor, Doralice Araújo)

Nessa tarde, a cidade estava coberta de uma neblina amarela que afagava os telhados como se fossem animais de estimação e enchia as ruas feito um banho.


in 'A Menina que Roubava Livros' de Markus Zusak,
 tradução de Vera Ribeiro, 2003, p.177.

Pappel Amarelo quinta-feira, 21 de junho de 2012

pelos caminhos que ando
 um dia vai ser
   só não sei quando
Paulo Leminski

Pappel Amarelo quarta-feira, 20 de junho de 2012


Jardim Botânico de Ontário/CA

I believe in angels,
 The kind that heaven sends,
 I am surrounded by angels,
 But I call them friends.

 Standing by,
 All the way.
 Here to help you through your day.

 Holding you up,
 When you are weak,
 Helping you find what it is you seek.

 Catching your tears,
 When you cry.
 Pulling you through when the tide is high.

 Just being there,
 Through thick and thin,
 All just to say, you are my friend.

Pappel Amarelo sexta-feira, 27 de abril de 2012



Perfume intenso...

flores desabrochando...

dama-da-noite.

62º. HAIKAI
Rosamaro
Publicado no blog Recanto das Letras


Rosamaro
Pelotas/RS

Pappel Amarelo quinta-feira, 26 de abril de 2012



Tudo o que vc precisa é olhar, prestar atenção e confiar.
Cherie Carter-Scott, do livro ‘Il life is a game these are the rulers’

Pappel Amarelo terça-feira, 24 de abril de 2012

A Dama da Noite antes de desabrochar, durante o dia.
No dia seguinte a flor está murcha, pois só abre durante a noite.

Pappel Amarelo quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


bem cedinho em Itapoá/SC - Foto de Raquel Fenner


A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Como Uma Onda
Lulu Santos

Pappel Amarelo

Colagem feita com a ajuda da Lara em janeiro de 2011.